Minha vida é pública. Ela está repartida com meus leitores, mesmo que eles sejam poucos... Depois de tantos anos, acho que atingi exatamente aquilo que sempre quiz: criar uma cumplicidade com as pessoas corajosas que resolvem todas as semanas me acompanharem nesta pagína 3 do Caderno Livre Expressão. Sempre busquei esta relação estreita, pois procuro jogar limpo, ser sincero, sem enganações e segundas intenções.
Esta sensação surpreendente de estar "repartindo a vida" com outras pessoas cresceu nos últimos dias, quando coloquei na internet o "Transparências', meu blog, onde estou escrevendo como se estivesse conversando com cada um dos que passam por lá. Lembro de um amigo que sempre me criticou por relatar fatos e sentimentos meus em minha coluna. Para ele, eu estava me "expondo demais" e isso poderia ser perigoso. Sempre lhe respondi que era extamente essa comunicação sincera que eu procurava obter, de forma que os leitores ao ler meus textos compreendessem e entendessem quem sou, porque penso desta forma e tenho estes sentimentos. Acredito que o meu amigo, no fundo, acha que eu estou "fora da casinha" ou coisa parecida...
Bem, meus leitores me supreendem. Estão atentos e me fazem observações, críticas e sugestões. Quando resolvi tornar pública minha condição de portador de "diabetes", fiz com algumas dúvidas. O que os leitores querem saber se tenho ou não, determinada doença? Mas., fiel ao objetivo de repartir fatos e sentimentos, passei a comentar aqui o drama que tem sido enfrentar uma doença que te obriga a mudar completamente de hábitos e costumes, onde o principal é entender que, de repente, tudo que sempre foi bom e gostoso, passa a ser proibido ou então, reprimido... Pois agora os leitores estão começando a me falar e perguntar sobre minha diabetes. Já recebi receitas de chás, fórmulas de cura, dicas de alimentação, etc. E claro, me informam - e eu sei disso muito bem - que preciso emagrecer...
Mas uma leitora, não sei se sensibilizada pela minha situação, pelos meus escritos queixosos,(acho que até demais...) com a situação em que vivo hoje, alijado de poder comer um doce, provar uma boa cerveja; ou então ao devolver ao prato daqui de casa que tinha recebido com doces, resolveu mandar um pão diet!
Bem, sempre gostei de pão. Minhã história começou com a Padaria Sperb que funcionava ali no início da rua General Câmara na descida para a Praia dos Ingazeiros, onde hoje existe um pavilhão pré-moldado inacabado. Quase todas as tardes, ali pelas 4 horas, buscavamos pão para o café da tarde. Tinha o "cabritinho", tinha o "sovado d’água", o "de quilo", o "de meio quilo" e assim por diante. E claro, os doces da Sperb eram inigualáveis: quindins, papo-de-anjo e cocada... Haaa, meu Deus! Sinto aqui, agora, o sabor do papo-de-anjo...Lembro também dos pães da antiga Imequinha aquela que incendiou e que ficava no Calçadão, naquela esquina onde hoje resta o terreno ainda baldio. Isso sem falar dos pães feitos em casa. Minha avó fazia cada um capaz de alimentar e deliciar o mais exigente dos paladares. Haviam pessoas que vendiam pães de ótima qualidade. Enfim, bem diferente de hoje, com o advento das tecnologias das máquinas, das massas prontas congeladas, etcs. Até bons produtos, mas um pão caseiro, sai de baixo, é inigualável. (Deixa esclarecer: nada contra as padarias e supermercados locais, hem gente? Eu também consumo pães feitos nesses estabelecimentos!)
Pois voltando ao pão que ganhei de presente da amiga atenciosa, estou saboreando-o vagarosamente. Minha primeira investida foi no café da manhã, duas, três fatias. Rebuscadas com creme de leite diet... No café da tarde mais duas fatias. E o pão mágico cada vez melhor, sem perder o sabor, sem perder a consistência. E amanhã de manhã, no café, devo terminar de saborear a delícia que esta amiga tão especial, com compaixão desse pobre sofredor diabético, resolveu me presentear!
Para postar aqui no meu blog ("Transparências") me dei ao trabalho de bater uma foto minha cortando o referido pão no café da tarde! Foi uma mini-produção de cinema. Abandonei a louça Panex de uso diário e exigi a outra, Schmit, para posar e mostrar aos internautas que passam no meu blog!
Outro leitor me informa que em Rio Pardo existe um grupo de diabéticos que se reune regularmente no Salão da Boa Vista. Me sentencia que devo participar do mesmo. Terei coragem? Não sei não, já criei coragem de levar o assunto às páginas do JRP, quem sabe um dia apareço por lá?
Como ex-agitador do passado, faço uso de um jargão de manifestações para lembrar que "os diabéticos unidos jamais serão vencidos"!
(este texto está sendo ´publicado na edição de 14/9/2007 do Jornal de Rio Pardo).
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